É CORRETO EXCLUIR IRMÃOS DA IGREJA POR CAUSA DE PECADO?

"Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só;
se te ouvir, ganhaste a teu irmão". (Mateus 18:15-17)
 
 
O Novo Código Civil Brasileiro exige mais apuração dos pastores antes de disciplinar um membro da igreja. O artigo 57 declara que, para se excluir alguém, tem que haver justa causa! A pouco tempo chegou em uma igreja um jovem de cabeça baixa, chorando, e foi conversar com o pastor na secretaria. Ele confessou, aos prantos, que havia pecado com uma moça descrente. Ele estava profundamente arrependido, mas isso não o impediu de receber a sentença: Foi excluído da igreja. É lógico que este jovem, não poderia, após ter cometido este pecado, ficar usando o microfone da igreja. Até porque agora ele deve orar mais, vigiar mais, se recuperar do prejuízo espiritual que o diabo lhe causou. Mas será que o pastor não poderia apenas afastar o jovem das atividades eclesiásticas, deixando-o em observação, ao invés da "exclusão"?!
 
Deixo bem claro aos amados irmãos que não sou contra as disciplinas e regras de cada igreja. Apenas enfatizo aqui a falta de perdão, de amor ao próximo, de averigüação em cada caso de exclusão, o que pode causar sérios prejuízos a nós mesmos, que somos pastores. A base usada em algumas igrejas é 1 Coríntios 5:1-13. Paulo inicia sua carta comentando a fornicação que havia entre os coríntios. Era algo tão permanente e terrível que Paulo chega a afirmar que não havia tal coisa nem entre os gentios. Paulo não se refere a um caso de queda seguido de arrependimento. Se assim fosse, a mulher adúltera de João 8 seria expulsa de perto de Jesus. Mas Jesus não condenou, não a expulsou de perto Dele, mas a aconselhou: "Vá e não peques mais". (vs 11) O que mais Ele iria fazer a uma pessoa que quase morreu por causa do pecado?! E Jesus ainda repreendeu o julgamento carnal: "Vós julgais segundo a carne. Eu a ninguém julgo". (vs 15) E quando Paulo fala do "fermento" (1 Cor. 5:6) não se refere a pessoas, mas o fermento da maldade e da malícia. "Por isso façamos a festa, näo com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ásmos da sinceridade e da verdade". (vs 8)
 
E no último versículo (13) Paulo diz: "Tirai pois dentre vós a esse iníquo". A palavra "iníqüo" vem do latim in = negar e aequus = justus = negar a justiça. O anticristo é chamado de iníqüo em 2 Tess. 2:8. Logo, uma pessoa iníqüa é aquela que nega a justiça, que não aceita a palavra de correção, e não um pecador sinceramente arrependido. 
 
O afastamento do nosso convívio, que a Bíblia recomenda, é com relação a indivíduos que claramente usam de engano e falsidade na igreja. Paulo afirma: "Näo vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberräo, ou roubador; com o tal nem ainda comais".(vs 11) Entendemos, segundo a Bíblia, que o pecador arrependido sinceramente alcança o perdão. Mesmo que o seu pecado não seja a primeira vez. Em Mateus 18:21,22 diz: "Entäo Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmäo contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Näo te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete". Interessante notar que estes versículos vem logo após a questão da punição em Mateus 18:15.
 
O objetivo de uma punição não é exaltar o punidor e nem "purificar" igrejas, mas levar o punido a reflexão dos seus atos, e conseqüentemente, ao arrependimento. Se o pecador foi levado a reflexão e ao arrependimento sem precisar de punição, vamos entender melhor Jesus em João 8. E qual punição mereceria o Filho Pródigo em Lucas 15:11-32? O texto diz que o filho pródigo foi viver "dissolutamente", ou seja, devassamente, fazendo tudo o que queria. No versículo 30 é dito que gastou os bens com as "meretrizes" (prostitutas). Na opinião de muitos este filho mereceria uma severa punição. Mas o pai pôs nele o melhor vestido, um anel em sua mão, e matou um bezerro, fazendo uma festa de causar ciúmes ao outro irmão. Este texto é uma parábola, mas Jesus jamais recitaria uma parábola que infringisse os princípios cristãos. As parábolas são justamente para explicar como devem ser as atitudes dos verdadeiros servos de Deus. Veja que o filho pródigo sofreu as conseqüências do seu pecado, e voltou arrependido, com a humildade de querer ser apenas um simples jornaleiro de seu pai. Mas o pai o recebeu como filho, em festa, como se este nunca tivesse transgredido seus mandamentos!
 
Alguns ainda baseiam sua exortação pública usando o versículo de 1 Timóteo 5:20:
 
"Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos,
para que também os outros tenham temor".
 
Preste bem atenção que este versículo se refere a repreender "na presença de todos que pecarem", e não na presença de toda a igreja, como muitos erroneamente interpretam. O versículo diz: "Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos..." De todos quem?? De todos que pecaram! E ele completa: "...para que também os outros tenham temor". Ora, o cristão verdadeiro já é temente a Deus. Em que iria contribuir a igreja ver um irmão ser envergonhado publicamente? Ninguém deve viver observando punições alheias para ter temor e não pecar. O cristão deve observar a Palavra de Deus para não pecar. "Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra. Escondi a tua palavra no meu coraçäo, para eu näo pecar contra ti". (Salmo 119:9,11) É importante observar que esta passagem de 1 Tim. 5:20 pode se chocar com Mateus 18:15, se não for aplicada com sincero amor cristão. E nesta passagem ainda Paulo alerta a Timóteo a "nada fazer por parcialidade" (1 Tim. 5:21). Ou seja, não ser imparcial. Se há rigor na exortação ao irmão mais pobre, que use do mesmo rigor com o irmão empresário, ou filho do pastor-presidente. Será que são feitas assim as punições de hoje?! 
   
Esta passagem de 1 Timóteo 5:20 se dirige a casos específicos que podem acontecer. Principalmente se o pecado de algum irmão estiver, de certa forma, influenciando parte da igreja. Este versículo é tão específico quanto o versículo 23:
 
"Näo bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa
do teu estómago e das tuas freqüentes enfermidades".
 
Usaremos este versículo como "doutrina"? Todos nós devemos beber a água sempre com um pouco de vinho?? Ou ele se refere a algo específico na vida de Timóteo? Assim, a punição do versículo 20 tem seus casos específicos, como o que Paulo escreveu a Timóteo.
 
No Salmo 32:8,9 Deus deixa claro que não deseja um relacionamento de obediência por medo ou proibições. Ele quer servos que o sirvam por amor, em espírito e em verdade.
 
"Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com
freios e cabrestos são dominados, de outra sorte não te obedecem".
 
Ora, se a exclusão fosse um remédio de purificação da igreja a exortação de Paulo em não tomar a Santa Ceia indignamente seria em vão! (1 Cor. 11:20-34) Todos nós somos pecadores por natureza! Paulo afirma ser o "principal dos pecadores". (1 Tim. 1:15) Então estamos todos nós excluídos? Claro que não. Tanto a exclusão quanto a advertência de tomar a ceia indignamente tratam de pecados permanentes, sem arrependimento.
 
Muitas vezes não entendemos haver tanta preocupação em punir com exclusões, se a Bíblia diz em 2 Tim. 3:9que "Eles não irão adiante". E no Salmo 101:7 diz: "O que usa de engano näo ficará dentro da minha casa".E não há melhor ilustração do que a parábola do Joio e o Trigo. Em Mateus 13:24-30 Jesus nos ensina que, quando os servos viram o joio no meio do trigo, disseram:

"...Queres, pois, que vamos arrancá-lo?"  Mateus 13:28b
Ao que o chefe de família respondeu:

"Não, para que, ao colher o joio, não arranqueis com ele também o trigo".  Mateus 13:29
Jesus deixou bem claro que o joio não pode ser tirado do meio do trigo até o dia da colheita! E para quem ainda não entender a parábola, Jesus deixa mais claro ainda, explicando:

"...a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos do maligno..."  Mateus 13:38
E no versículo 39 Ele diz quando será a ceifa:

"..a ceifa é o fim do mundo..."  Mateus 13:39b

Está bem claro que, antes do fim, ninguém pode julgar, condenar, arrancar ninguém!   
  
Se há rigor para exclusões e punições severas, então que ela seja imparcial, e que siga toda a Escritura, em sua essência, para que não haja imparcialidade, preconceito e acepção de pessoas. Por exemplo, a Bíblia diz:
 
"Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família,
negou a fé, e é pior do que o descrente". (1 Timóteo 5:8)
 
Constantemente presenciamos sérios problemas de família, envolvendo irmãos e até "obreiros". Mulheres mau tratadas, filhos desamparados, etc, e muitas vezes não vemos punições nestes casos. E a Escritura nos diz que este é pior que o descrente! São fatos lamentáveis, pois quase que diariamente sabemos de jovens que são excluídos por confessarem seus pecados com sincero arrependimento. Todavia, o Senhor dos Exércitos, que peleja pelos seus, tem erguido um povo forte, um povo que lê mais, que pensa mais, que medita mais nas Sagradas Escrituras. E até nossas autoridades tem sido abençoadas para criar novas leis que venham a proteger o Povo de Deus de ser tão humilhado injustamente. 
 
"Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto, diz o Senhor. Portanto assim diz o Senhor Deus de Israel, contra os pastores que apascentam o meu povo: Vós dispersastes as minhas ovelhas, e as afugentastes, e não as visitastes; eis que visitarei sobre vós a maldade das vossas ações, diz o Senhor. E eu mesmo recolherei o restante das minhas ovelhas, de todas as terras para onde as tiver afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos; e frutificarão, e se multiplicarão". (Jeremias 23:1-3)

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